quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Crítica: Paralelos


A trama do filme relata, sob a ótica de uma família, o reflexo do fim da passagem do trem que atravessava o Pantanal. O conflito entre ficar na cidade ou ir embora, a mudança da realidade do lugar e outros aspectos são abordados em Paralelos, tendo como visão central a vida de um menino de dez anos.

O curta-metragem de Alexandre Basso põe o espectador em constante aflição, visto que a fotografia do trilho é sempre sob perspectiva linear, nos dando a sensação, ao mesmo tempo de esperança, já que não se sabe o que está além do “encontro das paralelas” ao final da imagem, de inatingibilidade e de falta de perspectivas, reforçando o distanciamento da “coisa buscada” (no caso metafórico, o trem). Metafórico porque, na verdade, a busca não era simplesmente do objeto “trem”. Este carregava toda uma subjetividade para Pedro e seu pai, representando a felicidade, a prosperidade da família.

Destarte, o menino, que diz querer ficar naquela cidade, sai em busca do trem. Apesar do aparente paradoxo, a frase do pai - “existem dois caminhos: o de ida e o de volta” - fica “martelando” na cabeça do garoto, que vai justamente atrás do que possibilitaria a permanência da família sem a tristeza instalada no lugar com a ausência do trem.

“[...] o trem ia se afundando na distância, levando consigo o barulho, a fumaça e a alegria dos meninos.” Essa frase, retirada do livro O Grande Mentecapto de Fernando Sabino, aproxima as aventuras e desventuras do personagem principal Geraldo Viramundo à incessante busca de Pedro, protagonista de Paralelos. Certamente o espectador que tenha lido a obra sentiu, logo na cena inicial, a transposição para o cinema da história de Sabino.

Os movimentos da câmera, com muitos travellings, nos dão sempre a sensação de desesperada procura, da tentativa contínua de “ir ao encontro de”; além disso, encontram-se sincronizados com a fotografia, que explora bem a utilização das linhas, conduzindo o nosso olhar sobre para o foco dado pelo olhar do diretor.

A ficção perpassa por inúmeras outras questões existenciais, exemplificadas no momento de encontro de Pedro consigo mesmo – o Pedro-menino versus o Pedro-adulto. Duas vidas e dois tempos sob o mesmo trilho, um mesmo caminho. E consegue mexer violentamente com cada par de olhos que o acompanha, como no momento em que a mãe se dirige ao pai: “Cê tá esperando sabe Deus o quê, homem?”.

Laiz Ariana

(texto produzido na oficina “O curta-metragem brasileiro: história e crítica”)

Um comentário:

Pedro Cunha disse...

Nossa, mas o curso tá dando resultado, hã? Que belo texto, bom, conexo. Sem falar da citação do Sabino. Muito bom, guria! Parabéns!

Pedro Cunha.