sábado, 17 de novembro de 2007

Crítica: CRISÁLIDAS


A animação de Fernando Mendes cria uma atmosfera de elucubração insólita, preenchida por recursos gráficos e planos de ação que se sucedem de maneira quase onírica. Produzem uma estética da ordem do misterioso, do mágico, do encantamento. Um encantamento obscuro que traduz o medo, a dramaticidade da trama, das relações castradoras entre o imaginário infantil e a realidade opressora.

Tal atmosfera é descrita através de gestos e fotografias em tons contrastantes de cinza e deixa como impressão a permanência da penumbra em contraste com ambientações luminosas que elucidam os momentos de sonho e esperança da personagem principal, em contraposição ao clima neo-barroco provocado para expressar e ampliar o caráter dramático das cenas de conflitos entre a menina e o mundo restrito em que é levada a habitar.

A crisálida de Fernando Mendes parece não ganhar asas e condenar-se por uma narrativa que, ao final, não mais pode sustentar-se nos ritmos e recursos visuais em pregados, na medida em que, o sentido da trama, perde-se em meio à ornamentação gráfica e dinâmica das imagens estáticas em seqüência.

Kelly Tavares

(texto produzido na oficina “O curta-metragem brasileiro: história e crítica”)

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