quarta-feira, 21 de novembro de 2007

"ANDARILHO"


Em uma excelente iniciativa, o 14º Vitória Cine Vídeo, que foi realizado entre os dias 12 e 17 de novembro, dá continuidade a sua programação de lançamentos de longas-metragens inéditos em Vitória.

Alguns filmes foram selecionados pela organização da mostra para exibição gratuita no Cine Metrópolis nas semanas seguintes ao festival.

Nesta quinta-feira, dia 22, às 21 horas será exibido o premiado documentário "Andarilho", do mineiro Cao Guimarães.

O documentário aborda a relação entre o caminhar e o pensar a partir das trajetórias de três andarilhos solitários em estradas de Minas Gerais: enquanto caminham sem destino, Valdemar, Nercino e Paulão estabelecem pontos de vista especiais sobre a existência.

"Andarilho" (80 minutos, 2007) é o quinto longa-metragem do cineasta e artista plástico Cao, e o segundo de sua trilogia da solidão, iniciada com "A Alma do Osso" (2004).

O filme será apresentado em sessão única.
Não percam. Entrada franca.

CONCURSO DE ROTEIRO


A primeira vez que escrevi para cinema foi em colaboração com uma mocinha chamada Virgínia Jorge.

Ela tinha uma idéia muito bacana que acabou se transformando em um curta em Super8mm chamado “De Amor e Bactérias, a Pequena História das Coisas Menores”.

Anos mais tarde essa mesma moça filmou “No Princípio Era o Verbo”, outro filme cheio de boas histórias.

Esse ano, o 9º Concurso de Roteiro Capixaba, que faz parte da programação oficial do Vitória Cine Vídeo, premiou um roteiro dela: "Dia de Sol".

Eu sorri quando soube.
Provavelmente vem mais história boa por aí.

Ana Murta

PREMIADOS


O 14º Vitória Cine Vídeo terminou no sábado, dia 17 de novembro.
com a premiação dos melhores vídeos e filmes de curta e média metragem.

Os trabalhos vencedores nas diversas categorias receberam o Troféu Marlin Azul e prêmios em dinheiro.

Confira a lista completa dos premiados no site do festival.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

ÚLTIMO TEXTOS PRODUZIDOS NA OFICINA DE CRÍTICA DE CURTA-METRAGEM DO 14º VITÓRIA CINE VÍDEO


A oficina “O curta-metragem brasileiro: história e crítica”, oferecida este ano pelo Vitória Cine Vídeo, foi realizada com sucesso. Os 15 alunos participantes discutiram diariamente os filmes exibidos na mostra competitiva de curtas-metragens da noite anterior e saíram das aulas com a tarefa de transformar este papo em texto crítico.
É a última leva dessa produção que publicamos a seguir, com todos os autores devidamente identificados. Cada aluno teve total liberdade de escrita, e a própria dinâmica de uma oficina que agrega pessoas de formações diferentes se manifesta nos textos que apresentamos agora, todos eles bastante distintos entre si, e ao mesmo tempo completamente entregues ao exercício do pensamento crítico sobre o cinema – e, especificamente, sobre o cinema de curta-metragem brasileiro atual, sempre tão pouco analisado pela crítica. O mandamento fundamental das nossas aulas foi a aposta no binômio paixão-lucidez (tomado emprestado do grande crítico francês Jean Douchet). E é de amores e idéias que os textos da oficina se nutrem.

Que leitores e realizadores acompanhem a jornada destes novos críticos, aqui no blog do festival, e onde mais eles estiverem.

Rodrigo de Oliveira
(professor da oficina)

Crítica: NOITE DE SEXTA, MANHÃ DE SÁBADO


Quando os sussurros prevalecem e não se pode banalizar a palavra, o elo entre duas pessoas pode ser um telefonema, a visão esperançosa de um sol se pondo, ou se colocando como força unificadora. A contemplação de uma vida e todas as epifanias para embaraçar a vista ao se ouvir um "alô". O amor não formata, libera o coração, na verdade molda as atitudes e vontades, e pode nos levar aos lugares mais inesperados: à mesa de um bar entregue às moscas, às ruas movimentadas de um centro escaldante, à morte por hipotermia aos 20° C, o gelado mórbido da alma em uma praia.

São 15 minutos e algumas esperanças que nos fazem acreditar que todas as dores se resolverão a partir daquele momento. Um "alô". É assim quando as palavras não existem diante daquilo que tanto desejamos, quando as sensações são permeadas por fantasmas, não mais que sombras viventes, quando a solidão é profunda demais e precisamos falar, quando não existem palavras para tanto.

Um casal apaixonado, separado, e ao mesmo tempo conectado por um oceano de incertezas. Denunciado por uma câmera que não se contenta em observar, mas toma para si a responsabilidade de narrar com cumplicidade aquilo que olhos menos atentos não veriam: não há o que falar quando o sol e o mar se transformam em videotape do que se viveu, e o coração, após a voz, quase pára ante à esperança de um reencontro, a vontade de um toque.

O bloco dos corações amargurados leva muita gente para o mesmo mar. Mata pela falta, pelo cansaço, pela desesperança. Leva os que já não podem ou sabem mais o que dizer, que não procuram mais como existir. Talvez encontrassem um alívio nas secas e geladas, quase transparentes imagens e poucas palavras do curta-metragem Noite de Sexta, Manhã de Sábado, do diretor Kléber Mendonça Filho, o homem que provou a universalidade do silêncio como forma de união máxima entre duas pessoas.

Haroldo Lima

Crítica: IGRREV – IGREJA REVOLUCIONÁRIA DOS CORAÇÕES AMARGURADOS


Que fique bem claro: qualquer semelhança não é mera coincidência. Talvez por isso que o curta Igreja Revolucionária dos Corações Amargurados, de Carlos Magno, não tenha sido o filme mais aplaudido da noite do último dia de competição do 14º VCV. Algumas verdades costumam chocar. Incomodam. Falando de religião então, muitos não querem nem mesmo discutir. Só que o diretor, com a mesma tática religiosa, consegue produzir muita reflexão com aquelas colocadas no filme.

Lavagem cerebral, transe hipnótico. Tudo para explorar, tirar proveito da fé das pessoas. É ácida a crítica aos cultos evangélicos feito pelo curta numa combinação estética primorosa. A cadência com que a montagem foi elaborada produz um efeito de golpe mental como num pesadelo de olhos abertos.

De ficção mesmo o filme tem pouco, ou nada. Talvez a atuação dos atores-pastores (seriam uma coisa só para o diretor?), pois as pessoas que acompanhavam o culto, lotando a Igreja do “Pastor” Carlos Magno, se envolviam com uma crença de verdadeiros “fiéis”. Os ritos de nudez, sangue e bodes utilizados nem parecia incomodar inclusive. A interação era total.

Assistir ao culto, digo, ao curta preparado para ver uma realidade recorrente, pode render palmas dignas de muitos documentários exibidos no festival, só que algumas verdades costumam enfraquecer as amizades. Sorte que o diretor provavelmente se preparou para isso.

Alex Rosa de Andrade

Crítica: NUNCA MAIS VI ÉRICA


A produção capixaba “Nunca mais vi Érica”, de Lizandro Nunes, tinha tudo para ser um dos grandes filmes capixabas. A começar pela escolha do local da filmagem (Rua da Lama, com a galera sentada no Bar do Cochicho), o filme, por alguns instantes, leva o espectador a pensar num clima de saudosismo amoroso entre os personagens. A sensação de um reencontro singelo que, apesar das circunstâncias, gera no espectador a impressão de se estar vendo um filme romântico; parece mostrar que, apesar dos pesares, é sempre bom passar por um (re) encontro.

A história da trama é o reencontro de Érica (Andressa Furletti), com seu antigo namorado Miro (Bento Abreu). Érica, que agora está casada, vai ao encontro de Miro, querendo matar a saudade do passado. Depois de todo o clima de “remake amoroso”, Érica vai atrás de Miro, e o casal transa, como que concretizando toda a intenção do filme. A partir desse ponto começam os devaneios “terrorísticos” da trama. Como dito anteriormente, essa produção tinha tudo para ser uma das melhores até agora produzidas em terras capixabas, se o diretor atentasse para a simplicidade que a trama lhe proporcionava. A transição entre a cena de amor, da interação entre as personagens, é substituída bruscamente por um universo obscuro, suspenso, sem nexo. E digo isso exatamente pela falta de linearidade entre as várias ambiências da trama. A obra, principalmente no início, não deixa margem para um clima sinistro, misterioso. Ao contrário, ela suscita no espectador um clima romântico, saudoso, singelo que, interruptamente, é desvencilhado da trama.

Embora tenha gerado uma euforia na platéia, talvez por ser uma produção capixaba, o filme deixa a desejar quando opta pela falta de coesão entre as ações dos personagens e o enredo proposto a priori na trama. Deixa a desejar principalmente pela forma com que as cenas de suspense chegam ao espectador.

Parafraseando a crítica de Rodrigo de Oliveira ao filme A Fuga: Miro e Érica "mereciam moldura melhor para os seus sonhos", do que medíocres cenas de terror. Mas o cinema prevalece sempre!

Moisés Nascimento

sábado, 17 de novembro de 2007

Tatuagens para memoria II


Entro eu no banheiro mais uma vez, e lá estão duas moças conversando sobre os famosos presentes no Festival.

Uma delas então mostra uma de suas tatuagens, e explica que aquele desenho na verdade surgiu quando ela foi ao show do Marilyn Manson no Rio. Conseguiu chegar até a banda e pediu um autógrafo ao baterista. Ele então autografou o nome em seu braço. Ela não lavou e voltou para Vitória. Aqui, foi ao tatuador e reproduziu o desenho.

Que ficou muito bonito por sinal.

E eu fiquei pensando quanta coisa que a gente gosta não fica inscrita na gente.
Eu tatuaria “Stanley Kubrick” em meu braço.

Ana Murta

OS MENINOS DA ILHA


Hoje a noite será exibido o curta "Ele", que tem roteiro, direção e animação de 150 alunos que participaram do Projeto Animação em 2007.

O filme é uma homenagem ao compositor Noel Rosa, com passagens sobre sua infância, seu primeiro contato com a música, seu amor pela boemia e o sucesso nas rádios e no carnaval.

Esses meninos lindos na foto são alguns dos responsáveis pela trilha sonora do filme.
A Orquestra Jovem e a Banda de Congo Mirim da Ilha executam, AO VIVO, a trilha inspirada em sete clássicos de Noel.

Ana Murta

TEXTOS PRODUZIDOS NA OFICINA DE CRÍTICA DE CURTA-METRAGEM DO 14º VITÓRIA CINE VÍDEO


A oficina “O curta-metragem brasileiro: história e crítica”, oferecida este ano pelo Vitória Cine Vídeo, vem sendo realizada desde a última segunda-feira, sempre à tarde, no campus da Universidade Federal do Espírito Santo. Os 15 alunos participantes discutem diariamente os filmes exibidos na mostra competitiva de curtas-metragens da noite anterior e saem das aulas com a tarefa de transformar este papo em texto crítico.
Mais uma leva dessa produção acaba de ficar pronta, e é ela que publicamos a seguir, com todos os autores devidamente identificados. Cada aluno teve total liberdade de escrita, e a própria dinâmica de uma oficina que agrega pessoas de formações diferentes se manifesta nos textos que apresentamos agora, todos eles bastante distintos entre si, e ao mesmo tempo completamente entregues ao exercício do pensamento crítico sobre o cinema – e, especificamente, sobre o cinema de curta-metragem brasileiro atual, sempre tão pouco analisado pela crítica. O mandamento fundamental das nossas aulas tem sido a aposta no binômio paixão-lucidez (tomado emprestado do grande crítico francês Jean Douchet). E é de amores e idéias que os textos abaixo – e os que ainda serão publicados até o fim do festival – se nutrem.

Que leitores e realizadores acompanhem a jornada destes novos críticos sempre por aqui, no blog do festival.

Rodrigo de Oliveira
(professor da oficina)

Crítica: RÉQUIEM


O autor de Réquiem conta a história de dois amigos que estão unidos pela arte e separados em suas crenças e nacionalidades, mas juntos no dia a dia, até que no ano de 1988 o autor convida alguns amigos para a sua festa de aniversário onde o seu grande amigo Leonardo estaria tocando violão.

Em um determinado momento um incidente mudou toda sua trajetória de vida, e na sua angústia, sem saber o que o aguardava, optou pela morte!

Nesta fase difícil de introspecção contou com o seu amigo Leo e à quem dedicou esta obra. O diretor descreve esta historia com fotos, desenhos em preto e branco e música de violão, dando uma seqüência a sua narração a uma homenagem que muitos gostariam de poder fazer a um grande amigo.

Breno Jatobá

(texto produzido na oficina “O curta-metragem brasileiro: história e crítica”)

Crítica: PIPO PIPA


Como falar do deleite? Transpor em palavras um momento de prazer? A animação Pipo Pipa nos impõe um desafio diante das palavras e nos aquieta no silêncio das ações pausadas e tranqüilas, empregadas pelo ritmo e enredo deste personagem em busca do prazer em um momento de lazer com sua pipa de brinquedo.

A trajetória de Pipo descreve um fluxo de acontecimentos que tocam o imaginário e parece apelar para a criança existente em cada espectador, angariando simpatia, risos e exclamações da platéia.

Através de recursos visuais elementares de constituição bastante simples, cores que se complementam em harmoniosos tons frios e pastéis, o espectador é levado a uma atmosfera descompromissada e atenta para, em seguida, surpreendê-lo com o inverossímil e daí a sensação de deleite, o encantamento indescritível da trama, que conduzem o espectador até o final.

Kelly Tavares

(texto produzido na oficina “O curta-metragem brasileiro: história e crítica”)

Crítica: CRISÁLIDAS


A animação de Fernando Mendes cria uma atmosfera de elucubração insólita, preenchida por recursos gráficos e planos de ação que se sucedem de maneira quase onírica. Produzem uma estética da ordem do misterioso, do mágico, do encantamento. Um encantamento obscuro que traduz o medo, a dramaticidade da trama, das relações castradoras entre o imaginário infantil e a realidade opressora.

Tal atmosfera é descrita através de gestos e fotografias em tons contrastantes de cinza e deixa como impressão a permanência da penumbra em contraste com ambientações luminosas que elucidam os momentos de sonho e esperança da personagem principal, em contraposição ao clima neo-barroco provocado para expressar e ampliar o caráter dramático das cenas de conflitos entre a menina e o mundo restrito em que é levada a habitar.

A crisálida de Fernando Mendes parece não ganhar asas e condenar-se por uma narrativa que, ao final, não mais pode sustentar-se nos ritmos e recursos visuais em pregados, na medida em que, o sentido da trama, perde-se em meio à ornamentação gráfica e dinâmica das imagens estáticas em seqüência.

Kelly Tavares

(texto produzido na oficina “O curta-metragem brasileiro: história e crítica”)

Crítica: A CASA DE ALICE


O sonho de uma família feliz sempre existiu no imaginário da classe média brasileira da década de 90: estabilidade econômica, filhos educados, lazer e saúde garantida. É neste contexto que A Casa de Alice – premiado filme de Chico Teixeira – retrata de forma detalhada e sincera a vida de uma família de São Paulo, na qual descobrimos diversos mundos paralelos, cheios de segredos e crises, guiados pelo egoísmo de cada personagem e que nos levam a refletir sobre nossas vidas e famílias enquanto resquícios de uma época turbulenta da qual fazemos parte.

Com um orçamento modesto, a produção do filme conseguiu caracterizar de forma bela e sincera o apartamento em que a família vive, expondo com clareza as características de uma realidade que é pouco tratada pelo cinema nacional e que, se bem trabalhada, pode resultar em ótimas produções independentes.

O nível de identificação com os personagens é tão grande que a impressão que fica é que a história poderia ter acontecido com qualquer um de nós, ao nos depararmos com elementos e situações que fizeram parte da vida da maioria das pessoas: o carro importado do vizinho, o discman dos colegas da escola, as roupas de grife das amigas, a traição, os filhos ociosos, o dia-a-dia pacato, as questões econômicas e o desejo de ascensão social, crenças populares, entre outros conflitos familiares.

A naturalidade das atuações não só convence como nos coloca como personagem indireto da história. A brilhante atuação da protagonista Carla Ribas nos mostra uma mãe de família cansada e entediada, que procura por algo que a faça se sentir viva novamente, como reviver uma paixão da juventude, mas que, além disso, deve cuidar da casa, dos filhos e do marido – um homem frio e distante dentro de casa, mas que mostra seu outro lado fora dela. Os filhos, ociosos e problemáticos, vivem à margem, inertes e impotentes em relação à situação dos pais, como quando éramos crianças e apenas podíamos ver a vida passar diante de nossos olhos e tínhamos as escolhas feitas pelos outros.

O egoísmo do ser humano é o principal tema do filme, o qual o diretor constrói mostrando a visão de cada um dos membros da casa em relação ao que acontece ao redor de si, suas preocupações, anseios, desejos e medos. Somos apresentados também aos amigos e vizinhos da família – que é composta por pai, mãe, três filhos e avó – e é aí que percebemos o quanto a família parece estar afastada da realidade, trancafiada entre as paredes do moralismo, da vergonha, da inveja, da traição e do medo.

A cada cena, descobrimos mais segredos dos personagens, nos deixando cada vez mais ansiosos pela conclusão da história. A fragilidade do ser humano é colocada em evidência com as brigas e discussões entre irmãos e vizinhos. Até a matriarca da família, que é a única que se esforça para manter o lar que está à beira de um colapso, de pé, é fragilizada pela doença e pelo desprezo.

De forma gradual e progressiva, somos levados à epifania do filme – a grande sacada – que nos choca e nos arrebata, ao vermos tudo que já estava condenado a desmoronar, cair de vez, quando seu único pilar que ainda o sustentava é retirado. Os resquícios de esperança que poderiam haver desaparecem e então podemos finalmente voltar a realidade, por mais parecida que esta seja à do filme.

Resta apenas a nós reconhecermos nossos defeitos e dar lugar a um pouco mais de amizade, carinho, sinceridade e respeito ao próximo.

Saulo Puppin Pratti

(texto produzido na oficina “O curta-metragem brasileiro: história e crítica”)

Crítica: SALIVA (texto 2)


O desejo é como lago translúcido no qual queremos mergulhar de cabeça, sem a menor preocupação com possíveis resultados frustrantes. Esconde-se por trás da névoa do desconhecido, lâmina de vidro embaçado, fazendo aumentar ainda mais nossa curiosidade e imaginação.

Assim acontece com o curta Saliva de Esmir Filho, que, com sutil retoque de poesia, nos retrata a obsessão de uma menina de 12 anos com o seu primeiro beijo. Aliás, a mesma obsessão de todos os adultos que um dia já foram também meninos e meninas.

Diferentes mundos se escondem por trás da chuva que cai torrencialmente, inundando nossos olhos. Mundos os quais, nós humanos, ansiamos por descobrir. A vontade enche-nos a boca de água, toma-nos de assalto, transbordando-nos. Saliva retrata sentimentos tão humanos quanto animais. Trata de instintos primitivos incontroláveis. Reações involuntárias de um corpo em descoberta.

Mistura de incertezas, aversões e vontades criam emoções violentas, vulcão em erupção. O desejo é muito parecido com a fome, imperioso e voluntarioso. É urgência de náufrago, clemência de um condenado à morte. Esmir Filho, com pitadas de um humor quase cruel, consegue resgatar, no espectador, nascentes adormecidas, que, agora, querem correr sem empecilhos, rumo ao oceano.

Meire Rose Cruz

(texto produzido na oficina “O curta-metragem brasileiro: história e crítica”)