sábado, 17 de novembro de 2007

Crítica: SALIVA (texto 2)


O desejo é como lago translúcido no qual queremos mergulhar de cabeça, sem a menor preocupação com possíveis resultados frustrantes. Esconde-se por trás da névoa do desconhecido, lâmina de vidro embaçado, fazendo aumentar ainda mais nossa curiosidade e imaginação.

Assim acontece com o curta Saliva de Esmir Filho, que, com sutil retoque de poesia, nos retrata a obsessão de uma menina de 12 anos com o seu primeiro beijo. Aliás, a mesma obsessão de todos os adultos que um dia já foram também meninos e meninas.

Diferentes mundos se escondem por trás da chuva que cai torrencialmente, inundando nossos olhos. Mundos os quais, nós humanos, ansiamos por descobrir. A vontade enche-nos a boca de água, toma-nos de assalto, transbordando-nos. Saliva retrata sentimentos tão humanos quanto animais. Trata de instintos primitivos incontroláveis. Reações involuntárias de um corpo em descoberta.

Mistura de incertezas, aversões e vontades criam emoções violentas, vulcão em erupção. O desejo é muito parecido com a fome, imperioso e voluntarioso. É urgência de náufrago, clemência de um condenado à morte. Esmir Filho, com pitadas de um humor quase cruel, consegue resgatar, no espectador, nascentes adormecidas, que, agora, querem correr sem empecilhos, rumo ao oceano.

Meire Rose Cruz

(texto produzido na oficina “O curta-metragem brasileiro: história e crítica”)

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