terça-feira, 20 de novembro de 2007

Crítica: NOITE DE SEXTA, MANHÃ DE SÁBADO


Quando os sussurros prevalecem e não se pode banalizar a palavra, o elo entre duas pessoas pode ser um telefonema, a visão esperançosa de um sol se pondo, ou se colocando como força unificadora. A contemplação de uma vida e todas as epifanias para embaraçar a vista ao se ouvir um "alô". O amor não formata, libera o coração, na verdade molda as atitudes e vontades, e pode nos levar aos lugares mais inesperados: à mesa de um bar entregue às moscas, às ruas movimentadas de um centro escaldante, à morte por hipotermia aos 20° C, o gelado mórbido da alma em uma praia.

São 15 minutos e algumas esperanças que nos fazem acreditar que todas as dores se resolverão a partir daquele momento. Um "alô". É assim quando as palavras não existem diante daquilo que tanto desejamos, quando as sensações são permeadas por fantasmas, não mais que sombras viventes, quando a solidão é profunda demais e precisamos falar, quando não existem palavras para tanto.

Um casal apaixonado, separado, e ao mesmo tempo conectado por um oceano de incertezas. Denunciado por uma câmera que não se contenta em observar, mas toma para si a responsabilidade de narrar com cumplicidade aquilo que olhos menos atentos não veriam: não há o que falar quando o sol e o mar se transformam em videotape do que se viveu, e o coração, após a voz, quase pára ante à esperança de um reencontro, a vontade de um toque.

O bloco dos corações amargurados leva muita gente para o mesmo mar. Mata pela falta, pelo cansaço, pela desesperança. Leva os que já não podem ou sabem mais o que dizer, que não procuram mais como existir. Talvez encontrassem um alívio nas secas e geladas, quase transparentes imagens e poucas palavras do curta-metragem Noite de Sexta, Manhã de Sábado, do diretor Kléber Mendonça Filho, o homem que provou a universalidade do silêncio como forma de união máxima entre duas pessoas.

Haroldo Lima

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