sexta-feira, 16 de novembro de 2007
Crítica: ESCONDE-ESCONDE
Dizem que quem procura, acaba sempre encontrando. Mesmo que não seja exatamente o que estava procurando. Mesmo que seja algo totalmente inverso do esperado. Mesmo que seja a constatação de que, apesar de encontrar alguma coisa, a procura nunca acaba. O curta-metragem de Álvaro Furloni consegue, para além do aspecto imaginário/ficcional do cinema, confundir-nos ainda mais na tentativa, quase inútil, de separar realidade e imaginação.
Um homem idoso, Amaro, relaciona-se com as imagens de sua mulher e seu filho, ambos mortos fisicamente, mas renascidos por sua memória. Com a cumplicidade que apenas o cinema pode oferecer, essas imagens ganham vida, movimento e participação nesse seu mundo vazio e melancólico.
“Não estrague a brincadeira”, é o que diz sua mulher Regina ao brincar de esconde-esconde com o filho, Marcos. É também o que parece nos dizer esse curta-metragem, ao nos incluir nesse seu jogo/trama. Está em nossas mãos manter as coisas como estão. Na penumbra de sua velhice, Amaro, nos revela as perturbações de sua mente enfraquecida e transtornada, que mistura passado e presente, lembranças e esquecimentos. Um mundo que, apesar de ser criado por ele, agora também nos pertence.
Vemos aquilo que queremos ver. Pois, afinal, o que mais impregna nosso olhar além de lembranças, memórias seletivas e saudades? A velhice é uma ponte a qual todos aqueles que não morrem antes haverão de atravessar. Fato tão óbvio como a matemática que o porteiro do prédio ensina a seu colega de trabalho, o faxineiro. Dois mais dois será sempre igual a quatro. Sempre mesmo?
Furloni parece questionar a realidade com esse curta. Parece também colocar o próprio cinema em questão na medida em que revela aquilo que tenta, desesperadamente, esconder. A fala de Regina no parque “... é que às vezes eu me lembro...”, lança-nos em direção ao abismo da contradição real-imaginário.
Nesse sentido, o jogo do esconde-esconde fica ainda mais emocionante quando podemos acrescentar uma palavra ao seu nome, resolvendo assim o quebra-cabeça que nos propõe: esconde-esconde e revela. Assim como faz o cinema.
Meire Rose Cruz
(texto produzido na oficina “O curta-metragem brasileiro: história e crítica”)
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