sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Crítica: SALIVA


Repugnância e desejo. Esses são apenas dois dos sentimentos nos quais Saliva busca submergir o espectador. O curta-metragem de Esmir Filho cria repulsa com imagens asquerosas, mas, ao mesmo tempo, nos convida a entrar naquele universo tão líquido que chega a mostrar-se sensual.

O primeiro beijo de uma pré-adolescente. Estabelece-se já, a partir dessa pobre síntese da trama, uma idéia que se estenderá nos quinze minutos de filme: o escorrer da infância e a entrada na pré-adolescência - uma fase transitória, que se refletirá na indefinição, na liquidez das cenas. Podemos pensar no uso do papel celofane, por exemplo, seria um significante alegoricamente infantil, que, no entanto, sugeriu charme e sensualidade.

Muitos foram os elementos precisos no sentido de criar o clima perfeito para a narrativa: a chuva, o copo d’água com gelo, o espelho embaçado... As imagens fluidas, turvas, acompanhadas de um som meio ecoado, escorrido, pingado permitem ao espectador ficar sensorialmente muito próximo da história. E é nesse mar de medo, sonho e desejo, que o um quarto de hora do filme se esvai num fluxo intenso e envolvente, nos levando consigo a mergulhar novamente na infância.

Laiz Ariana

(texto produzido na oficina “O curta-metragem brasileiro: história e crítica”)

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